Sonhos transparentes

Liberta-me o corpo,
pois minh’alma não se encontra em prisão.
Alivia-me com teu sopro
e inspira de meu ar a redenção
Sou relapso.

Enganam-se os olhos,
mais adiante, algum coração.
Restringem-se ao que não posso.
E findo, com prazer gozoso, em solidão.
Sou escasso.

Preencha-me o amargo vazio,
ou nada faça e me deixe te admirar.
Assombra-me teu olhar viril,
mas fique assim, deixe estar.
Sou privado.
Ilusão.

Ponto de continuação


Se eu pudesse dizer tudo que sei, ainda assim estaria em silêncio. O mistério é prazeroso, delicado e divino. As armas que eu tenho, pequena minha, não posso usar. Todos esses venenos, as mentiras e nem essa vontade precipitada de acabar podem me ajudar. Eu sou o ponto de continuação. E minha pequena ambição é a de não continuar... Talvez por não ter desejos, talvez por não poder parar. Quem sabe alguma linda história me faça chorar, mas não há memória melhor que a de poder amar. Não há melhor vitória que a de não ganhar. Valer-se dos seus defeitos já é uma grande virtude.