em termos de amor e ódio
o meu eu morreu
coisa chata essa de podar as circunstâncias. estou velho demais.
o tempo passou tão rápido quando um sopro e eu não sei mais o que fazer com o meu corpo, porque sinto que estou morto, mas a carcaça continua caminhando por aí e eu não quero mais carregar este peso.
espero que o futuro me dê a coragem de alejandra pizarnik. estou pronto. não tenho mais medo e não tenho coisa alguma que me prenda a este plano.
quero viver a circunstância de minha morte em sua mais bela plenitude.
até os milagres se foram
faz algum tempo que vi a sombra do seu rosto
ela me dizia:
caminhe devagar para não cair
e então eu comecei a dar passos cada vez menores
até desistir de andar.
quando olho para trás
penso que se eu pudesse te abraçar agora
nem que fosse por um mísero instante
eu voltaria a ter desejo de viver.
como os meus braços estão vazios
eu só sinto vontade de morrer
e as metáforas não me incomodam mais.
deve haver algum lugar no mundo
para gente funesta como eu.
as descobertas virão.
eu espero
eu preciso de um milagre
i'm so mad i'm getting older
trago cansaço aos montes
e das mais variadas coisas.
sonhar
quando se é pequeno
dá uma sensação gostosa.
a gente nunca se esquece de
viver,
buscar sentido
- o sabor adocicado da juventude
também me passou pelos dedos.
não é que eu não note o dia chegar
mas você já olhou para o céu hoje?
faz tempo que habito lá
no alto
entre os passarinhos e os aviões
minha alma voa
um texto sem revisão porque já estou tão cansado
em noites como as de hoje penso que devíamos organizar os papéis, limpar os vidros do carro e, de fato, pegarmos estrada. não tenho coragem. falta em mim a virilidade dos 17 anos (é uma pena que o número tenha se tornado um estorvo para o país, porque foi a idade na qual o meu mundo virou de cabeça para baixo- o que, ao final das contas, faz muito sentido).
são em noites como as de hoje que tenho maior dificuldade para dormir. as lembranças não ficam escassas e eu sei exatamente qual é o cheiro e o sabor do passado, mas, veja, algo em mim me impede de voltar a este lugar escuro e ao mesmo tempo florido que guardo em meu peito.
escrevo porque sei que o meu espaço no mundo é tão pequeno que não faz diferença se decido usar a palavra sigaho e não cigarro. fumar já perdi o hábito. a bebida também está ausente da minha vida há alguns meses. você deve estar rindo e sem entender como consegui sobreviver meses sem as drogas. eu, de cá, estou rindo porque me rendi à droga do açúcar e o meu corpo sentiu a diferença.
não sei expressar como me sinto em relação a tudo que está acontecendo.
não me ensinaram a sentir o que estou sentindo. é tudo tão vago quando vejo a partir dos meus olhos.
gotas
você não me olha
quero dizer,
você até pode me olhar, mas não me vê.
sabe quando nos ligamos
quando ouvimos as nossas vozes
e entendemos que tudo mudou
e ficamos amigos
eu sei que isso não é bom para mim
sei que estou vulnerável ao sentimento
tem algo estranho dentro do meu peito
como um sopro
uma sensação de continuidade
como se a linha do tempo da minha vida
apenas fizesse sentido
porque você está presente nela
acho que não estou sendo claro
tenho medo que os meus textos sejam prolixos-
a minha mente não respeita nada
eu quero espaço
respeito a distância
recuso-me a chamá-lo mais uma vez
o vento bate forte na janela porque é junho
estamos no mês do meu nome
não quero pensar nisso
você não me vê.
como isso é possível?
depois do almoço trabalharei com menos temor
a indignação palpitando sobre os olhos
não quero esperar ser visto
quero ver também
fatos importantes sobre mim
Não tenho o objetivo de me tornar viral. Ser um sucesso nas redes sociais nem de longe me parece o meio ideal para obter um resultado positivo acerca da minha escrita. Nada que remeta a i.s.s.o me fará feliz. Gosto da sensação de estranheza, com a qual lido há muito, mas tenho me aproveitado dos espaços virtuais para desabafos impertinentes. Trabalhos sérios, sérios mesmo, são publicados em livros e coletâneas. Por aqui fica a efemeridade. Vejam que pela data das postagens não tenho medo ou vergonha alguma de quem eu fui, tampouco de quem virei a ser. O que estou sendo é mistério. Até.
acho que apenas estamos
tenho um poema que dura 5 páginas
acho que sou rebelde
outro texto meu
ocupa 25 páginas no programa do computador
é também um poema
acho que a maioria das pessoas se cansaria
assim como acredito
quase piamente
que as pessoas pararam de se importar com a literatura
desde que a TV e a internet
tomaram conta de tudo
e a poesia parece ser banal
ainda que dentro de estrofes como estas
que agora faço
exista um universo inteiro de
pássaros e flores e ar puro e alegria e pedido de socorro
ninguém percebeu ainda
que o mundo não é mais o mesmo
porque nós desfizemos o mundo como ele era
nunca saberemos
se estamos melhores ou piores
pequeno primeiro relato
Volto a este espaço com certo receio.
Não sou o mesmo que publicou por aqui há alguns anos.
Obviamente algo dentro de mim vive com um quê de esperança, caso contrário tudo já teria ido pelos ares. O cansaço continua. Existe um caminho de individuação que ainda não consegui percorrer, mas estou vivendo como se algo realmente importasse para mim.
Desnudo, como manda um de meus próprios textos.
Tornei-me advogado, professor, mestre, inúmeras coisas e, ainda assim, eu não sinto que sou eu mesmo. Falta algo.
Volto a este espaço como uma tentativa de reencontro comigo mesmo, sem os medos que antes me afligiam, sem o temor, sem as sombras do passado como vozes que me destroem o sono.
Aqui, tento voltar a mim.
Até que eu descubra quem verdadeiramente sou.
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