Prece

Deus,
me leve para o inferno
de onde me tirou,
pois este onde agora vivo
é pior que o pior dos martírios
e eu desisto.


Julgamento final

É cediço que a falha humana se alimenta da vaidade
 que o fracasso é uma fantasia
 que o tesão é marionete do intelecto
 que a raiva é um pedaço de si mesmo
 que mil homens não seriam capazes de levantar o meu carro do asfalto enquanto dirijo porque eu sempre uso o freio de mão
 que os meus olhos não lacrimejam com facilidade
 que eu sempre amo de forma errada
 que a admiração é frágil como papel
 que a dor se cura com amor
E que eu sempre peço perdão porque magoo aqueles que me tentam ajudar

A grande (e dolorosa) verdade, portanto, é:
a minha carne fétida e a minha alma putrefata não são passíveis de salvação.
Condenado ao pecado eu estremeço, mas aceito o fado e digo adeus.

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O Primeiro Adeus

Eu sei que vez ou outra,
numa noite qualquer de desânimo-
como tem sido toda a minha vida,
você busca nesta página o conforto.

Pois bem.
É chegado o momento.
Com as vestes em mãos eu digo:
serei o primeiro
do último a abandonar essa história
que, convenhamos, repete-se.

Há ainda o sobressalto do desatino.
Eu não rio e, em seu lugar, não riria
da desgraça gigantesca em meu caminho
que foi encontrar você.

Que amanhã seja o meu dia e não a sua litania (nunca mais!).

O terno do desejo nunca sai de moda

Se a tua mente te trouxe aqui
Por imposição de vontade analítica
Então é cumprida a nossa sina
E suprida a tua fantasia
Que, eu sei, é também a minha

Valha-me, mente maldita!
Eu instigo, instigo, digo e nunca digo,
mas nunca sou o primeiro.

Resta-nos a lição:
Sala ou banheiro?