A legalização do Pau Brasil



Onde está a bola azul?
Onde está?
Não a encontro.
Roubaram de mim o reforço,
a ascensão gloriosa,
a subida luxuosa aos céus.
Onde está o veneno?
Azul embuste.
Onde está?
Procuro, busco, e não acho.
Que será de mim?
Sem a pílula alucinante,
a fumaça revigorante e afins.
Envergado estou.
Onde está a vaidade?
Onde está?
Só vejo enganos...

Inocente fim de comédia

 




Alvo de proteção, meu, teu amor. Nesta imensidão inviolável em que eu me encontro, que não cede ao tempo meu sentimento, já nem sei o que fazer. Minha bagagem é o que furtei de ti. E agora envolto no impulso de te buscar, eu me calo. Permaneço parado sem te encontrar nem me reter. Eu quero é meu sossego tão somente.

Comédia



Medusa, Caravaggio (recorte)

Chega a ser angustiante: este relato me sufoca. Não porque escrevo como se me faltasse o mundo ou a vida em si, mas por conter em mim a problemática que não existe. Eu não anseio a vida, sequer necessito, porém arremesso-me para o oxigênio para manter outrem. Mesmo eu não me suporto. Há alguém que mora em mim e que me rouba a felicidade. A esse alguém chamo de “eu”. É que minhas vontades são tão inebriantes a ponto de me entorpecer e me abandonar em marasmos ilógicos. Pensando bem, não tenho vida. A única coisa que possuo são projeções de um eu que não existe, a visão deturpada dos outros sobre mim, eu mesmo não existo. Nem sei quem sou. Então rompo minha ermida: não satisfaço minhas vontades e não vejo foco quando eu me olho no espelho. Preciso encontrar um motivo para sorrir constantemente, e com urgência, ou a tragédia da vida se intensifica e... ?