um texto sem revisão porque já estou tão cansado

em noites como as de hoje penso que devíamos organizar os papéis, limpar os vidros do carro e, de fato, pegarmos estrada. não tenho coragem. falta em mim a virilidade dos 17 anos (é uma pena que o número tenha se tornado um estorvo para o país, porque foi a idade na qual o meu mundo virou de cabeça para baixo- o que, ao final das contas, faz muito sentido).

são em noites como as de hoje que tenho maior dificuldade para dormir. as lembranças não ficam escassas e eu sei exatamente qual é o cheiro e o sabor do passado, mas, veja, algo em mim me impede de voltar a este lugar escuro e ao mesmo tempo florido que guardo em meu peito. 

escrevo porque sei que o meu espaço no mundo é tão pequeno que não faz diferença se decido usar a palavra sigaho e não cigarro. fumar já perdi o hábito. a bebida também está ausente da minha vida há alguns meses. você deve estar rindo e sem entender como consegui sobreviver meses sem as drogas. eu, de cá, estou rindo porque me rendi à droga do açúcar e o meu corpo sentiu a diferença. 

não sei expressar como me sinto em relação a tudo que está acontecendo. 

não me ensinaram a sentir o que estou sentindo. é tudo tão vago quando vejo a partir dos meus olhos. 

gotas

 você não me olha

quero dizer,

você até pode me olhar, mas não me vê.

sabe quando nos ligamos

quando ouvimos as nossas vozes

e entendemos que tudo mudou

e ficamos amigos

eu sei que isso não é bom para mim

sei que estou vulnerável ao sentimento

tem algo estranho dentro do meu peito

como um sopro

uma sensação de continuidade

como se a linha do tempo da minha vida

apenas fizesse sentido 

porque você está presente nela


acho que não estou sendo claro

tenho medo que os meus textos sejam prolixos-

a minha mente não respeita nada


eu quero espaço

respeito a distância

recuso-me a chamá-lo mais uma vez

o vento bate forte na janela porque é junho

estamos no mês do meu nome

não quero pensar nisso


você não me vê.

como isso é possível?

depois do almoço trabalharei com menos temor

a indignação palpitando sobre os olhos

não quero esperar ser visto

quero ver também