Melhor idade

A mulherzinha sorriu satisfeita: era a primeira vez que fazia aquilo. Estava um pouco envergonhada, meio cabeça baixa, mas estava contente. Que mulher na sua idade teria coragem de fazer aquilo? Nenhuma! Ela era um ótimo exemplo para as outras velhinhas. Provavelmente seria orgulho delas também. Tornar-se-ia uma heroína.
Pensando nisso que se levantou, colocou a roupa justa e saiu andando devagarzinho, para não acordar ninguém. Sentiu o vento lhe bagunçar o cabelo. Em outra ocasião, ficaria incomodada com aquilo, mas seu cabelo não tinha muita importância agora. Ela queria era sorrir para os sete ventos e cantar com os passarinhos. Queria dançar na chuva ao som das mais belas sinfonias desse mundo, queria deliciar-se com o gosto da primavera que chegava, queria gargalhar sem se importar com os dentes que lhe faltavam. Queria ser feliz...
E estava sendo, até que alguém lhe impediu de andar.
- Com licença. – Ela disse irreverente.
- Com licença? – O rapaz forte pegou a velha pelos braços – É só isso que tem a me dizer?
- Meu filho!
A mulher, assustada, tremeu-se por inteiro. Já não sentia as pernas e nada conseguia falar, tamanha a sua vergonha. Tentou explicar, mas sua voz era falha.
- Explique que cheiro de maconha é esse que você está exalando. Estava se drogando?
- Não, meu bebê. Só fumei algumas, não foram muitas.
- Então é com isso que você gasta o dinheiro que lhe dou para comprar os remédios?
- Foi somente uma aposta. – Ela engasgou com a própria saliva, tossiu. – Juro.
- Uma aposta? De quê? Sua dignidade?
O homem saiu e deixou que a sua mãe permanecesse isolada ao barulho da cidade. A vida corria depressa e a esperança da senhora parecia correr também. Para seu filho, era apenas uma drogada. Passou anos tentando refazer a sua imagem, aquela que tinha de presidiária por ter assassinado o infeliz que lhe engravidou e agora seu próprio filho a odiava. Gastaria outra vida para reconquistar o amor do rapaz. Pouco importava. Ela ainda tinha tempo e alegria de sobra para gastar.

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