Pé na estrada



Não quero entregar os fatos da minha vida a ninguém. Quero ficar com o que vivi. Domar os instantes na memória para não deixá-los escapar é mais penoso do que se imagina. Eu gastaria uma vida inteira para decifrar o que vivi apenas num instante. É sabido que minha fidelidade ao passado é corrosiva- estou sempre a ponto de explodir,  mas assim que se me apresenta o estopim eu fujo. Covardemente. Não existe melhor maestria que a de ser covarde. Pois ser um morto-vivo tem me dado dessas vantagens: quando menos espero, algo acontece, e eu fujo do acontecimento. Não tenho válvula emocional para lidar com certas circunstâncias... Preciso mesmo sumir para suportar. Jamais vesti a capa de heroi: a minha vida inteira foi um único sentimento de angústia que se estende até então. E que tempo vivo agora? Quero ficar com o que vivi. E sofrer milionésimas vezes pelos meus erros e pelas falhas dos outros na tentativa de perdoá-los e seguir em frente (assim que encontrar a direção).

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