Desnudo


Então o passado me vem atormentar como num funil sem fim, deixando-me entrelaçado às vestes que não mais possuo. Estou nu. Dei meu corpo à infinidade do tempo e, desnudo, entreguei-me à ceifa orgulhosa do nascer-morrer. Completo os ciclos bruscamente. Realizar cada etapa da minha vida de maneira natural tem me dado o mais belo dos sentidos: o de viver. Não sei se transparecer tal concepção é também dom adquirido com o tempo, mas responder aos meus instintos tem sido remédio eficaz contra a doença da abstinência. Sequer uma semana e já há falta. Busco explicação na simplicidade das coisas e, não encontrando, ponho-me a observá-las sem pretensão alguma. O claro ato de estar inerte, sendo também fato, torna-me já inalcançável. E veja que não sou estridente, nem ilógico, a possibilidade mora em mim. Fartura nenhuma há de me incomodar. E que desejo algum estremeça minhas vontades, visto que sou gente e minha carne pode enfraquecer, e a chama ainda acesa. A luz do meu sonho não se apaga. Controlo minha inaptidão à vida estando eu dentro dos outros, gravando em brasas imaginárias o fogo de mim no outro. Amando o outro num amor desigual. Então desvelo minha abrupta locomoção numa viagem qualquer e esqueço tudo... Somente fica a lembrança: verde-mar, alegria, verde-mar. 

OBS.: Assumo esta publicação num involuntário ato alcoolico. Com acento ou sem acento? Estapafúrdias à gramática, sou Guimarães Rosa, e fim. 

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