Eu, mouro Narciso torto



Vinte nada.
As artimanhas que já me passaram
E estudei e enfrentei e soergui todas as coisas
E todas as vezes que mentiram para mim
Vinte não.
Muito mais.
Tombos e surras e tapas que já levei
E medos e aflições e vitórias
Cada derrocada de punho erguido eu venci
Nada de vinte.
Somam-se em mim muitas dores
Malocadas e rasteiras que a vida me deu
E saltos que eu dei para me salvar
As lesões ficaram
Mas conquistei muito mais do que me tentaram tirar
Vinte a mais
Uma infinidade de amigos, alguns amores,
Alegrias e decepções que me enrijeceram a raiz da alma
O trabalho e os livros e as festas e os eventos e as aulas
Vinte mesmo!
E talvez muito menos
Sabe-se lá qual a idade que me tem dado a vida
E os séculos que já vivi mundo afora
Todas as vidas que já tive em mãos
Agrupam-se num espaço-tempo incalculável
Parabéns a mim.
E aos vinte porvires que me sucederão esta mesma carne,
O mesmo furor e a mesma coragem que me sucederam estes vinte anos de agora.

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