Sem destinatário.


A cor d’antes, que agora escureceu,
pertence a muito mais gente que gosta.
Há muito mais eu.
O brilho nítido que tudo reluzia,
estranhamente que se apaga e não volta.
Há aqui uma noite vazia.
E voltam as flores mortas da campina,
o cheiro fúnebre da dor irrisória.
Há vida na esquina.
Muito mais alma e menos coração,
compulsivamente se isola, repetitivamente.
Há dor na solidão.
Intrigante amor próprio que não cede,
que não deixa recheio ou carniça equivalente.
Já não mais pede.
Há desenvoltura terna no limiar da esperança
e a vida desola carnificinas febris.
E não sei se sou criança, se sou matança.
Há um breu noturno em meu ser,
um temor inteligível, um vapor asqueroso, enfim.
E nada disso me impede de viver.
Que se rompam as margens da tradição
e brote novamente a ideologia viva do sentimento.

                Sem desprezo, virtuosamente,
                                            Coração.

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